Lenda de Seteais (Lenda dos Sete Ais)

Em 1147, D. Mendo de Paiva, cavaleiro ao serviço de D. Afonso Henriques, subia a Serra de Xentra (hoje conhecida como Sintra) quando avistou vários mouros a fugir por uma porta secreta de uma fortaleza.
Lisboa havia sido conquistada e os Mouros de Sintra tinham ficado isolados pelo que o encontro com o Cristão era sinónimo de pavor ...
- Ai! – Suspirou uma bela Moura ao deparar-se com D. Mendo.
Zuleima, aia da moça, apressou-se a pedir-lhe que não voltasse a suspirar indiferente ao cavaleiro, mas quando ia justificar o seu pedido calou-se ...
- Acaba o que ias dizer ... – Disse D. Mendo não conseguindo conter a sua curiosidade.
- A ti nada tenho a dizer – respondeu a Aia – os teus já nos tiraram as terras, os bens, o castelo, nada mais temos para Vós!
- Pois , estais enganada! Esta rapariga fica minha prisioneira !
A Moura, chamada Anasir, soltou novo suspiro, ao ouvir tal afirmação.
A Aia, mais assustada pelo suspiro da moça do que pelo cavaleiro, decidiu então confessar o segredo que guardara até então!
- Calai-vos e não assustais mais a minha ama que sobre ela recai pesada maldição ...
Ora perante o ar aflito da Velha, Anasir não resistiu a dar o terceiro “Ai” !
- Que dizes ? - perguntou o cavaleiro intrigado!
- Uma feiticeira ciumenta, ao perder o homem que amava, para a mãe da minha ama lançou-lhe terrível feitiço: condenou-a à morte no momento que desse o seu sétimo Ai!
A Moça suspirou mais uma vez e D. Mendo não conteve barulhentas gargalhadas ...
- Se pensas que salvas a tua ama com contos de bruxas estais muito enganada! E só por isso ficas também minha prisioneira!
E a Moura suspirou novamente ...
- Ouviste , Cafir, ouviste? É o quinto Ai ! Que Alá lhe acuda !
D. Mendo riu-se novamente! Mas desta vez limitou-se a pedir-lhes que esperassem por ele e prometendo voltar para as levar para lugar seguro, entrou na fortaleza!
Um grupo de Mouros, que havia escutado a conversa, pretendendo impedir que as mulheres ficassem prisioneiras do Crsitão, tentaram levá-las à força mas Zuleima resistiu. Incapazes de levar avante a sua pretensão, os Mouros arrancaram a cabeça da velha com um golpe de adaga, o que provocou o sexto suspiro de Anasir ...
Quando D. Mendo voltava, ouviu o sétimo e dolorido Ai da Bela Moura, no mesmo momento que outra adaga cortava seu pescoço!
O cavaleiro ficou revoltado e tournou-se o cristão mais temido pelos mouros desse tempo.
À terra onde havia encontrado a Moura que tanto desejara e que uma Maldição matara, resolveu chamar Seteais!
Ainda hoje num sítio certo do Jardim de Seteais, se alguém disser um ai, ouve o eco que o repete seis vezes para lembrar aqueles que não acreditam em Maldições!